sempre quis tocar a lua. descobri que há várias formas de lá chegar. não é preciso ser-se astronauta afinal.









quinta-feira, 6 de outubro de 2011

outubro

rodopia o outubro,
ao rubro.
lá por volta de cá.
em tons de algodão doce
ora não fosse,
este sol que aquece
e apetece,
abraçar a avó, a tia,
que alegria.
e, numa dessas tardes
com compadres,
o vinho que fala e não cala
as vozes mais danadas.
fala-se de tudo,
contudo,
alguém se levanta, canta e
não encanta.
aplaudem com desdem,
mas que bem.
isso não importa, suporta.
agonia, atrofia.
os olhos cerram e encerram,
num corpo mole que cai
e sobressai
num colchão vazio,
sem brio,
ali, deitado, sorri,
olha o tecto, recto
respira, suspira
enfim,
ai de mim.
só.
rodopia o outubro,
ao rubro.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

pai

ainda mal andava e lá ia eu
a caminho do mar. a ziguezaguear.
davas-me sempre a mão.
na tua mão,
senti que a areia me fazia cócegas.
eu ria, ria muito.
mas tu não sabias porquê.
rias também.
se soubesses o quanto ri com tão pouco.
um grão de areia apenas
fazia-me soltar a maior das gargalhadas.
a água fria é que me fazia chorar e gritar.
mas era o frio que me incomodava
não era o medo como pensaste.
na tua mão,
não sentia medo. Queria ir mais além,
brincar com as ondas como fazem as gaivotas.
não me deixavas, puxavas-me para trás.
eu ria, ria muito.
mas tu não sabias porquê.
rias também.
e pegavas-me ao colo sempre que a onda era grande.
era tudo tão grande. E eu pequenina, tão pequenina.
na tua mão,
sentia-me grande.
foi nesse dia que,
na tua mão,
soube porque és meu pai.