caminho na tua direcção.
a luz do sol ofusca-me a visão.
mantenho-me direita, apesar da irregularidade da estrada.
caminho em frente.
passo por um cruzamento à direita. dois.
afinal são dois à direita e um à esquerda.
sorrio para um cão que encontro a abanar a cauda.
o chão fica mais regular, já posso apressar o passo.
observo-me e penso “para que me apresso?”
realmente, porquê?
mais depressa chego, mais depressa saboreio.
mais depressa lembro e mais depressa esqueço.
retomei o passo lento, muito direita.
não devido às características da estrada, desta vez,
mas para manter a postura.
há que manter a postura, dizem.
há que manter o princípio de se ser bípede, digo.
arranco uma amarga amarela e meto na boca.
trinco-a e faço uma careta. é boa.
agora é a subir, custa um pouco com todo este calor.
mas subo. penso e tento não pensar.
há momentos em que gosto de sentir apenas
e esquecer para onde vou.
o suor brota e faz-me cócegas na testa.
falta pouco, mas parece-me que falta tanto.
paro e olho para trás. que bela vista.
poderia escrever um livro com esta imagem,
mas não gosto de longas descrições,
principalmente de paisagens. nada como contemplar.
gosto de usar as palavras em gentes, sentimentos, situações e afins.
passa-se tudo num lugar, é certo.
e é certo que o local é importante.
é ele que nos acolhe e à acção.
mas a tristeza ou alegria de alguém é-me mais relevante,
mais interessante,
que a madureza da cereja ou as folhas caídas no chão.
é uma mera opinião, nada mais.
livres somos todos, pelo menos, de pensar.
e lá estou eu a divagar.
passa uma mãe com um menino.
de mãos dadas, apressam-se pela ladeira abaixo.
bom dia, dizemos todos.
continuo a marcha.
o sol torna-se mais quente à medida que a hora avança.
o estômago reage ferozmente, assim de repente.
chego ao cimo e já não olho para trás.
continuo em frente, sem qualquer cruzamento.
o sino badala lá em baixo.
conto as primeiras badaladas, mas não quis saber o resto.
não é importante.
assola-me uma dor.
uma felicidade.
já te avisto.
entro.
como é bom voltar a ti, como é bom voltar a casa.
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